English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Nova canção do exílio

No prédio onde a gente mora tem
varias palmeiras e nenhum sabiá.
Tem maritacas que desde cedo fazem a maior
algazarra. Do último andar a gente vê
crianças brincado no pátio, moças passando
na rua e lá longe as luzes piscapisca
da véspera de Natal na cidade
grande, carros passando, barulho de buzinas.
A gente perdeu a conta dos natais
que passou sozinho, olhando um frango
assado na mesa, comprado na padaria da
esquina já frio e sem gosto. Uma garrafa
de vinho pela metade, a toalha com
migalhas de comida, algumas formigas
passeando, na vitrola um disco daqueles
bastantes antigos, música que dá vontade
de chorar. No quarto desarrumado,
roupas na cama, no banheiro, uma toalha
molhada do banho recém tomado,
a janela aberta deixa entrar um vento
quente de verão, raios anunciam chuva
forte que vem do sul, o telefone mudo,
ainda a ultima esperança de que alguma
pessoa, algum fantasma se lembrou da
gente, mas nada. Lá longe o sino da velha
igreja bate a meia noite, as pessoas lá
fora estão se abraçando, comemorando,
algumas estão bêbadas, outras choram e
a gente começa a trinchar o frango frio
da padaria com gosto de nada e brindamos,
com uma taça de vinho meio
azedo, mais um Natal nesta terra de exílio
e solidão, esperando que amanhã as
maritacas continuem com sua algazarra
matinal, sem saber que o Natal passou e
aqui não tem sabiá.

Juvenil de Souza sempre passa o
Natal fora de casa porque fica triste
nesta época do ano. Mas garante que
se recupera no carnaval que vem aí.



Próxima crônica
Voltar à página anterior