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De namoros e namorados

Na pracinha quase deserta as vagens das sibipirunas estralejam no ar e batem no chão fazendo um barulho metálico e constante. As pessoas passam e pisam forte nas cascas tortas caídas nos ladrilhos quadrangulares, pretos e brancos, brancos e pretos, numa repetição sem fim. No banco de cimento um casal de namorados namora trocando beijos e carícias.
A moça tem cabelos lisos e brilhantes, o rapaz uma tatuagem no braço e camiseta sem manga. Pouco se falam, a linguagem do amor não precisa palavras para se expressar.
Uma pomba do ar lamenta com seu canto rouco e um pouco lúgubre na tarde que desce e enlanguesce o nosso coração. Um ou outro pardal cata ciscos no chão quente, a grama sente calor, uma bica sem torneira pinga pingos de água que caem na terra onde vicejam folhas verdolengas de almeirão selvagem e algumas avencas de folhas miúdas. O bem-te-vi avisa, uma poeira fina fica no ar, os namorados continuam namorando, as luzes começam a acender, pálidas a princípio, depois claras e brilhantes. No poente o sol agoniza, uma cigarra anuncia que pode chover, nuvens vermelhas se esfarelam no céu.
A primeira estrela tremelica no anil distante. Um beijo dos namorados coroa mais um dia que se vai, um momento sem igual. As mãos tremem, sobe um desejo indefinido de beijar alguém que não existe mais, a mágoa deixa os olhos baços, um frêmito percorre as veias intumescidas e a gente vai para casa, desconsolado de tudo, para amanhã começar um novo dia que nunca será o mesmo de hoje.

Juvenil de Souza é autônomo
sem carteira assinada.


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